“Professora: uma realização com frequentes desafios” pela Pedagoga Janaína Cardoso da Mota Ferreira

Resumo III

Página 18

Ao iniciar minha experiência enquanto Formadora Municipal do LEEI – Leitura e Escrita na Educação Infantil, fui motivada a pensar acerca do meu ‘fazer docente’. O incentivo a estas reflexões deu-se a partir da provocação feita pela Formadora Estadual, a Professora Gabriela Barreto da Silva Scramingnon 10, cuja qual inquietou-me às minhas memórias da infância, em família e na escola, entre jogos e brincadeiras, em que provicou recordações da minha ancestralidade, entre outros aspectos tão importantes da cultura que me constitui. Assim, considerando acerca da sua indagação sobre “como e por quê torneime professora?” as palavras singelas de Freire (1991), na obra “A educação na cidade”, ecoaram em meu coração como auge desta lembrança que justifica a minha escolha profissional: “ninguém decide ser professora em uma quarta-feira qualquer”. Desta forma, vários momentos da história contribuíram ao meu direcionamento à área educacional, conforme posso descrever por meio do ato poético que compartilho.

“Tornei-me eu quando nasci em uma sexta-feira e acredito que comecei a descobrir-me professora dentro da barriga da minha mãe, uma mulher indígena, nordestina e analfabeta funcional. Tornei-me professora no caminho da escola primária e em contato com as primeiras professoras que carimbaram em mim a didática própria de cada uma. Torneime professora nas interações e brincadeira, nas histórias, nas descobertas, nos faz de conta, nos livros lidos e ainda não lidos. No aroma da merenda e no cheiro de mofo da biblioteca. Tornei-me professora ao entender que filosofia nos proporciona reflexão, indagação e o movimento de transformação enquanto sujeito ativo na educação. Além, da compreensão que fome tem cara, que desemprego tem endereço e assistência que deveria ser para todos, atende poucos. Tornei-me professora na escola privada, na escola pública, nos comícios, manifestações e greves defendendo uma educação laica, pública, de qualidade, coletiva e de saberes diversos. Tornei-me professora no olho a olho com meus pares, no atraso do salário e no choro sentido e na pequena/ grande descoberta de cada aluno meu. Entendi-me como professora quando compreendi que a docente que sou nunca estará coberta, que nunca estará acabada, porque ao contrário de outras profissões ser docente é um ato de decisão, de movimento, de formação, de indagação, e principalmente de permanência. Sou professora porque sou reflexo dos que me formaram e caminho ao lado daqueles que acreditam que esperançar é um verbo de ação e não um objeto direto. O como e o porquê de tornar-me professora está na minha inquietação, na necessidade de descobrir o mundo e de interagir com a maior diversidade de pessoas e ser professora me proporciona isso”. Embora com vivência na área educacional há mais de dez anos, sendo desde 2014 como servidora na Secretária Municipal de Educação na Prefeitura Municipal de Belford Roxo por meio da qual exerço a função de Supervisora Escolar (Orientadora Pedagógica), este exercício – aparentemente simples – foi fundamental para resgatar a tamanha importância que a área da Educação exerce na minha vida. A atividade de relembrar e responder sobre a minha decisão de tornar-me educadora e como foram os primeiros passos somatizou valor à minha inspiração para realizar o planejamento e execução do primeiro encontro com as cursistas do LEEI, em Nova Iguaçu, sendo 42 (quarenta e duas) professoras da Educação Infantil que fazem parte da rede. Neste sentido, compartilho este relato de experiência a fim de contribuir com colegas educadores que, assim como eu, almejam pela ampliação de processos de leitura e de escrita a partir da creche e da pré-escola. Neste momento esta escredocência resumirá minhas expectativas e resultados atingidos a partir da ansiedade pelo primeiro encontro.

Como era de se esperar, além de mim, o grupo todo estava ansioso e curioso para saber do se tratava a formação, afinal de contas: o que é leitura e escrita na Educação Infantil?
Ao longo das apresentações já começava a ser costurada a longa colcha de retalhos que se seguiria nos próximos encontros previstos ao longo do ano de 2024. Destaco o que as cursistas enfatizaram sobre suas expectativas acerca do curso “aprender com a prática das crianças” e “agregar valores através da leitura e da escrita, proporcionando um mundo mágico para os alunos”. Estas entre outras narrativas me trouxeram maior protagonismo neste processo de responsabilidade à frente de profissionais com expectativas tão positivas e dedicadas, cujos momentos de trocas por meio das oficinas, demostravam-se bastantes interessadas em compartilhar experiências e opinar, sempre focando no desenvolvimento da criança. A compreensão do que é arte e, principalmente, refletir sobre a literatura como arte foi o ápice do nosso debate. Finalizamos o nosso encontro com “chave de ouro” com a contação de história do livro: Apesar de tudo (Dipacho), a partir do qual as cursistas reagiram com depoimentos e manifestações emotivas que geraram novos questionamentos e reflexões como a declaração de uma das professoras: “Se nós que somos adultas, gostamos de ouvir histórias, imagina os nossos pequenos.” Com esta exclamação é que amplio minha visão à perspectiva da aquisição da leitura e da escrita pelas crianças como algo que inquieta as famílias e faz com que nós, educadores, tenhamos reforçado o objetivo da Educação Infantil, reconhecendo a presença da cultura da escrita das crianças desta faixa etária nas respectivas famílias, instituições religiosas e de lazer, entre amigos, e em diversos locais de educação formal ou informar como por meio de cardápios de lanchonetes e restaurantes ou em tecnologias como tablets e aparelhos de celular. Após a minha formação em que foi abordado esse tema, levei à escola na qual atuo, a proposta de incentivarmos as crianças de quatro e cinco anos a escreverem uma carta para seus pais ou responsáveis para entregarmos no dia da reunião com os mesmos e, da mesma forma, incentivarmos que pais e responsáveis escrevessem para as crianças, em forma de retribuição. A proposta foi recusada por todos os pais e responsáveis, sem exceção, o que me trouxe outra problematização acerca do incentivo à leitura e à escrita ausente no período em que estavam nos primeiros anos na escola, o que dificulta o trabalho do educador em sala uma vez que as crianças partem do ambiente familiar sem estes estímulos. No entanto, este fato não me foi visto como impedimento, mas como desafio para analisar e oportunizar alternativas para valorização da leitura e da escrita às crianças e, quem sabe, impactando em seus pais e responsáveis como oportunidade de desenvolver estas habilidades linguísticas para uma vida, no contexto de uma formação humana e emancipatória, segundo Medeiros (2019).

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